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Não existe uma política definida para a agricultura orgânica, avalia Marcos Palmeira

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set 2018

Não existe uma política definida para a agricultura orgânica, avalia Marcos Palmeira

Além de sua carreira como ator, Marcos Palmeira há mais de 20 anos também investe na produção de alimentos orgânicos em uma fazenda de 220 hectares em Teresópolis, no Rio de Janeiro. Ao longo desse tempo, produziu de hortaliças a laticínios, tudo sem agrotóxicos, fertilizantes químicos ou hormônios.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, o ator e empresário relata a falta de incentivo público para essa prática. “Não existe uma política realmente definida pra agricultura orgânica”, critica. Ele também fala quando decidiu investir na fazenda orgânica que hoje tem como carro chefe a produção de leite.

Quais foram os investimentos que você teve que fazer para mudar a forma de produzir?

A primeira coisa que fiz foi parar de investir, no sentido de parar de gastar com aqueles adubos que eu estava comprando. E depois fui entendendo que faltava a recuperação do solo. Precisava fazer uma adubação, trabalhar com coisas que me dessem um resultado de fertilidade do solo. Não me preocupar com a planta, me preocupar com a qualidade do solo.

Foram conceitos que eu fui percebendo, que é o mesmo conceito da homeopatia, da antroposofia. Você cuida da saúde, você não trata da doença. A terra é a mesma coisa, você cuida para que o solo seja saudável e fértil. E aí sim você atinge os seus objetivos de produção.

É um processo longo, é uma área extremamente degradada que eu comprei, e venho nesses 20 anos trabalhando na recuperação dela – preservação, recuperação das nascentes, separação de áreas para reflorestamento. E é um processo muito legal você ver a resposta dos animais, os animais voltando. Hoje tem até lobo-guará, jaguatirica.

Você percebeu algum aumento na produtividade?

De cara, diminui um pouco a produtividade. Mas você aumenta muito a qualidade do seu produto. Você ganha um valor muito maior, e é uma produção extremamente limpa. Não dá para comparar. Se tenho cinco mil litros de leite convencional no dia, e passo para o orgânico, vou cair para quatro mil litros. Mas esse meu litro de leite me paga mais que os cinco mil litros de leite.

Já encontrou dificuldades nesse caminho? 

Sempre encontro. Nem sempre tem uma linha de crédito clara para agricultura orgânica. O Brasil ainda tem o potencial de ser o celeiro de alimentos do mundo, mas a gente precisa acordar.  O que eu sei é que existem subsídios para agroindústria. O que um produtor de soja ou um produtor de milho pagam de imposto é irrisório comparado com o produtor orgânico.

Acho que não existe uma política realmente definida para a agricultura orgânica. Estamos todos lutando contra uma maré muito pesada, mas que ao mesmo tempo a gente tem prazer em fazer nossa luta.

Por que você acha que existe essa falta de investimento na área?

Porque é um país voltado para o agronegócio, para as grandes obras. A gente incomoda de alguma maneira. Porque quem produz alimento somos nós, é a agricultura familiar, o pequeno produtor. Mas quem discursa como produtor de alimento é o agronegócio.

Quanto o produtor precisa investir e quanto há de retorno? 

O crescimento da agricultura orgânica é 40% ao ano. Então é um negócio bastante interessante. De investimento acho que depende. A grande vantagem da agricultura orgânica é que uma vez a sua propriedade estando equilibrada, você não precisa mais quase investimento nenhum. É só manutenção.

Os seus produtos são distribuídos no Rio de Janeiro. Chegam a outros estados também?

Por enquanto, só no Rio de Janeiro. Consigo chegar em outros Estados com outros produtos que não são produzidos dentro da fazenda, mas estão ligados a mim, que é o mel, o café e o chocolate. Quem sabe um dia não entro no mercado de Pernambuco?

Eu adoraria. Alguma parceria com produtores locais, uma coisa a longo prazo. Estou sempre aberto. Mas produzir um produto no Rio para chegar aqui é um gasto de energia muito grande, em todos os níveis. De combustível, transporte, tudo. Eu acredito muito na produção local.

Recentemente vocês migraram para o e-commerce. Como foi essa transição?

Estamos começando isso. É um e-commerce chamado Clube Orgânico, que na verdade está ligado na origem dele a fomentar a produção orgânica no campo, preparar melhor o produtor do Rio de Janeiro em termos de gestão. É tentar fazer um e-commerce em que a pessoa não tenha um atravessador. É um facilitador da distribuição para que o preço seja o mais justo possível.

 

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