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Jardins verticais dão nova cara ao Minhocão

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nov 2016

Jardins verticais dão nova cara ao Minhocão

Associado constantemente à degradação, ao trânsito, à poluição e ao barulho, o Minhocão é um dos símbolos máximos da falta de conforto urbano de São Paulo e de uma cidade pensada mais para carros do que para pessoas.
Não à toa, o debate em torno de sua demolição ou transformação em parque ganha cada vez mais força nos últimos anos. Enquanto nenhuma destas ideias saia do papel, no entanto, algumas transformações e melhorias não deixam de ser notadas no Minhocão. É o caso dos chamados jardins verticais (implantados em muros de prédios), uma transformação paisagística e ambiental que, se continuada, pode mudar radicalmente a cara do polêmico elevado paulistano.
Idealizado pelo Movimento 90o, o chamado Corredor Verde do Minhocão é o projeto por trás desta última mudança. Com seis jardins verticais já implantados e mais quatro planejados para os próximos meses, o projeto partiu da constatação de que existem cerca de 140 empenas cegas (paredes de prédios sem janelas) ao longo do elevado.
“Em 2013, fizemos um mapeamento da cidade de São Paulo e vimos que a maioria das empenas cegas da cidade estavam nas vias arteriais do centro expandido. Mapeamos cerca de 500. E isso nos indicou a criação do conceito de corredores verdes: corredor da Augusta, da Consolação etc.”, conta o paisagista Guil Blanche, diretor do Movimento 90o.
“Mas escolhemos começar com o projeto piloto do Minhocão, não só porque ele estava em pauta naquele momento, mas porque ali as condições de conforto ambiental são as piores de todas. Tem um estudo do médico Paulo Saldiva que mostra que com os níveis assustadores de barulho e poluição que existem ali, uma pessoa que mora no Minhocão vive cerca de 15 anos a menos que o normal”, completa Blanche.
Melhorias ambientais
O conceito de jardim vertical foi criado pelo francês Patrick Blanc no início dos anos 1990, quando o botânico conseguiu consolidar uma técnica eficiente e segura para a sobrevivência das plantas em paredes. O método se mostrou bastante adequado ao meio urbano, onde usualmente faltam espaços para novos parques e praças e sobram muros e paredes.
“Quando você é um paisagista, você investiga a natureza e tenta reproduzir o que vê nos seus jardins. E o que o Patrick fez foi conseguir mimetizar o que acontece em superfícies verticais de pedras e troncos para as paredes”, explica Blanche. “Assim, na cidade contemporânea o jardim vertical surge como uma solução arquitetônica”.
Do mesmo modo que áreas verdes horizontais no meio de uma cidade, o jardim vertical provou ser eficiente no controle de alguns dos mais graves problemas ambientais urbanos, como aquecimento, umidade, barulho e poluição do ar. O procedimento criado por Blanc também provou, ao longo dos anos, não trazer riscos de infiltração, problemas higiênicos, nem grandes demandas de manutenção para além de um sistema eficiente de irrigação.
Visual
Para pensar o aspecto visual, os artistas podem trabalhar com uma pluralidade de espécies de plantas que se adequam à condição vertical e que não necessitam de raízes profundas. “A gente se preocupa também com a mínima manutenção, e fazemos isso observando a natureza. Quer dizer, pesquisamos quais as plantas nativas, o bioma original, porque elas são as que melhor se adequam aqui”, diz Blanche.
O paisagista conta que o Movimento 90o trabalha com uma “paleta vegetal” de cerca de 200 espécies, com diversas texturas, tamanhos e cores, o que traz infinitas possibilidades aos artistas. No Minhocão, há tanto um jardim com cerca de 30 espécies como outro com apenas três.
Quem passear a pé pelo elevado durante um fim de semana, ou mesmo quem passar de carro em um dia qualquer, certamente vai notar os impactantes jardins que começam a mudar a paisagem do local. Considerando que são 140 empenas cegas ao longo da via, é possível pensar que muitos outros jardins serão construídos e transformarão a cara da região com seu Corredor Verde.

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