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Manufatura avançada em pauta no setor calçadista

16

mar 2016

Manufatura avançada em pauta no setor calçadista

Calçados impressos em casa, tênis energizados ao caminhar, peças inteligentes que vibram diante de obstáculo ou quando chegado ao destino. Isso já existe, em pequena, pequeníssima escala, mas já existe. Agora o setor calçadista brasileiro quer dar uma guinada em termos de inovação tecnológica para aplicar a manufatura avançada no segmento, tanto para o desenvolvimento de novos produtos – como os citados – como para novos processos produtivos, mais sustentáveis e eficazes, uma dobradinha de conceitos que certamente será fundamental para a sobrevivência da atividade na contemporaneidade.
A Abicalçados deu o primeiro passo rumo à chamada Indústria 4.0, ou processo de manufatura avançada. A entidade recebeu, na sua sede, em Novo Hamburgo/RS, representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) para uma apresentação do conceito (foto).
O objetivo do encontro foi a formatação de um projeto com as entidades envolvidas, unindo ainda outras associações setoriais, como a Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos para os Setores do Couro, Calçados e Afins (Abrameq), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Instituto by Brasil (IBB), Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefato (IBTeC) e os centros tecnológicos do Couro e do Calçado do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Na oportunidade, o tecnologista do MCTI, Sérgio Knorr Velho, apresentou alguns cases de manufatura avançada já existentes no setor calçadista, que ainda caminha a passos lentos na área. Segundo ele, existe um processo de “retorno para a casa” por parte das grandes marcas, local onde serão menos intensivas em trabalhos manuais e mais automatizadas.
“Atualmente a produção mundial está na casa de 22 bilhões de pares de calçados, quase 90% realizada na China, e boa parte dessa produção deve voltar para os locais onde é consumida”, frisou, citando os casos da Nike, que deve abrir planta com 10 mil funcionários nos Estados Unidos e Adidas, que prometeu abrir uma fábrica automatizada na Alemanha ainda em 2016. O especialista citou ainda uma pesquisa realizada com 618 produtores norte-americanos em maio de 2014, na qual 53% dos respondentes se disseram dispostos a investir em processos de manufatura avançada nos próximos anos.
Para Knorr Velho, o setor industrial brasileiro ainda está muito atrasado em termos de inovação e tecnologia na produção, algo que é refletido no fraco desempenho nos registros de patentes de produtos em nível mundial. Das mais de um milhão de patentes requeridas no mundo no ano passado, apenas 600 foram do Brasil, o que coloca o país no 29º posto entre os requerentes, à frente somente da África do Sul no ranking dos chamados Brics. A China, maior requerente dos Brics, tem mais de 120 mil requerimentos.
Conforme o tecnologista existe um grande espaço para o incremento, especialmente nos setores de interligação, com digitalização de dados, operação em nuvem (internet), comunicação máquina-máquina, entre outros aspectos que poderão tornar os processos mais sustentáveis e ao mesmo tempo lucrativos através da maior produtividade. “O processo produtivo deve passar de células isoladas para a integração total de dados e fluxos de produto através das fronteiras”, ressaltou.
Knorr Velho detalhou, ainda, o que já está sendo realizado pelo órgão. Segundo ele, desde agosto do ano passado, quando foi chamada uma Reunião no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um grupo de trabalho com mais de 50 pessoas de diversas instituições está em funcionamento. Posteriormente, ao grupo somou-se a participação do Governo Federal através do Ministério da Comunicação e Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Para 2016, a partir de março, está programada uma série de workshops sobre o tema, que acontecerão em Brasília, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Porto Alegre e Florianópolis.
Para a gestora de Projetos da Abicalçados, Roberta Ramos, o surgimento de um novo consumidor enseja a mudança na indústria. Segundo ela, esse novo consumidor está mais centrado no acesso do que na posse do produto. “É um momento de pensarmos em novos formatos de negócios, que levem em consideração uma conexão em rede entre as pessoas, com empresas mais horizontalizadas”, destacou, ressaltando que a inovação tecnológica tem papel fundamental no novo momento cultural.
Citando alguns cases do setor calçadista, como calçado que gera energia ao caminhar, a bota impressa na tecnologia 3D, produtos que mudam de cor e com GPS, entre outros, a gestora destacou que o setor calçadista brasileiro deve passar a ser alvo de benchmarking com a adoção das novas tecnologias.
Para dar um impulso à nova realidade, Roberta acrescentou que na Abicalçados está sendo concebido um projeto, com foco em produtividade, que inclui os conceitos de manufatura avançada. A iniciativa, contou, visa à criação de novos produtos (desenvolvimento de materiais com tecnologia, novos formatos de calçados, customização com auxílio da biomecânica etc.), novos processos (automação industrial, integração da cadeia de suprimentos etc) e novos modelos de negócios (fomento ao empreendedorismo, aproximação com start ups, criação de uma cultura de inovação etc.).
No dia 23, a gestora de Projetos da entidade participou de reunião na sede da ABDI, em Brasília/DF, para apresentar propostas da temática para a indústria calçadista. A reunião, que contou com as presenças de representantes do MCTI, MDIC e ABDI, foi um pontapé inicial para o desenvolvimento de um projeto para o segmento e que contemple três pilares: Design, Tecnologia e Negócios.
Entre as ações já levantadas no projeto para o setor calçadista, destacam-se desafios de inovação, a criação de fóruns com entidades relacionadas, a criação de um centro de pesquisa com possibilidade de prototipagem rápida, pré-incubadora, entre outros. Além disso, ações já existentes, como a plataforma de cocriação Moda Co e o evento chamado de Maratona MUDE devem passar a incluir o olhar da tecnologia e da inovação na sua concepção.

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